A origem do seu nome provém de uma região onde abundavam caniços – um caniçal.
Estas terras, desde o inicio da colonização, não foram desprezadas, pois forma a coutada mais importante da Madeira, onde iam montear os filhos do 1º capitão – donatário de Machico.
A esta coutada famosa se refere Gaspar Frutuoso, nas Saudades da Terra:
“era de tanta caça de coelho, perdizes, pavões e muitos porcos javalis , que se afirma que era a melhor coutada de todo o Portugal.
Não faltava a água naquelas terras, pois que, logo nos primeiros tempos do seu povoamento, “ para se regarem canas-de-açúcar nesta vila (Machico) e para o Caniçal se tirou uma levada de tão longe que do lugar onde nasce, até á vila serão quatro léguas e meia…”.
Das antigas matas ficaram, também alguns nomes que as evocam: o Dragoal, o Serrado dos Marmeleiros, onde outrora houve viçosas culturas.
O 1º lugar habitado na região da Ponta de São Lourenço foi o sítio do Caniçal.
Naquelas terras, doadas o Vasco Moniz, contemporâneo dos filhos de Tristão Vaz, estabeleceu-se uma fazenda povoada que veio a ser a origem da actual freguesia – a mais antiga das pequenas freguesias da Madeira. A data do testamento que Vasco Moniz lega ao seu filho primogénito o morgadio do Caniçal é de 5 de Setembro de 1489.
Não foi a importância da povoação, nem a perspectiva do seu desenvolvimento que justificaram a criação da Capelinha do Caniçal, por carta Régia de 25 de Agosto de 1527, em tão afastado lugar, onde existiam, á época, pouco mais de 10 casais. Pelo contrário, foi p isolamento, dadas as enormes dificuldades de comunicação com Machico que levou á criação duma tão reduzida paróquia.
A criação da freguesia do Caniçal data de 1561, depois nesta época nem chegariam a 15 casais que a povoavam.
Foi na capela de São Sebastião, fundada por Garcia Moniz, no 1º quartel do século XVI que se instalou a nova sede da freguesia. Erguia-se mais a Oriente no sítio que ainda se chama Igreja Velha, a qual esteve a saque dos corsários no começo do Séc.XVI. em 1594 se acresceu ou reedificou a mesma capela, deixando-a em tal estado de ruína o terramoto de 1748 que uma testemunha contemporânea diz que: “ não tem outro remédio senão nova edificação”.
Do séc. XVI, temos a construção da primitiva capela da Nossa Senhora da Piedade, que segundo consta a tradição foi fruto do voto de marinheiros que, vendo o seu navio prestes a despedaçar-se contra os rochedos da costa, prometeram erigir no cimo do monte uma pequena ermida dedicada á Santíssima Virgem.
Em outro tempo, teve adjunta uma casa destinada a recolher os devotos, que ali iam em romarias. A actual capela remonta do séc. XVII.
Desde tempos imemoriais se honra a Senhora dos Pescadores, em Setembro, com uma original procissão marítima.
Quando a procissão se fazia em barco de vela, era um espectáculo original e interessante ver o embarque da confraria, de cruz alçada, o vigário e o andor acomodados na embarcação mais engalanada que os vinha tomar a uma ponta do litoral, antes de haver o cais.
A partir do séc. XVIII, o núcleo populacional da freguesia deslocou-se para oeste, edificando-se a nova igreja, a actual em 1749.
Neste período o Marquês de Pombal, projectou construir na enseada da Abra um porto militar e respectivo arsenal.
Por esta altura se cuidou da defesa da população, composta na sua quase totalidade por pescadores, frequentemente assaltada por piratas mouros, tendo construído um pequeno forte no litoral que passou a vigiar a aproximação dos assaltantes, em colaboração com as demais vigias da costa… onde se recomendava especial atenção “ as fogueiras do Caniçal, iniciativas de mouros pela Ponta de S. Lourenço”.
Desses tempos atribulados, em que naquele minúsculo mundo, desgarrado do resto da Ilha, ninguém sabia, ao adormecer se não acordaria espavorido, ao grito alarmante de: Corsários – ou sob os seus golpes ferozes, lá se conserva ainda a memória – Três Donzelas – que designam o sítio onde a tradição oral diz haverem sido raptadas três jovens.
No inicio do séc. XIX, Paulo Dias de Almeida na sua Descrição da Ilha da Madeira, referindo-se ao Caniçal diz: “ os habitantes são muito pobres e se empregam na pesca de que vivem. O terreno é inculto e apenas conservam 4 figueiras, junto á Igreja e alguns inhames (…) Não têm água, só perto da Igreja há uma pequena fonte e outra na capela da Piedade, mas também pequena (…) A comunicação por terra é uma estreita vereda por rochas muito perigosas.
Em 1867 procederam-se á organização das obras do farol da Ponta de S. Lourenço, tendo os trabalhos da construção da respectiva casa e dependências anexas começando em 1868 e terminando em princípio de 1870. Estava satisfeita uma grande necessidade pública. Alguns navios naufragaram naquelas imediações, nomeadamente o encalhe do Forerunner em Outubro de 1845.
No inicio do séc. XX, em 1909, foi mandado construir pela Junta Geral o pequeno cais, adequado ao tamanho das embarcações da época.
A freguesia do Caniçal, em 1931, foi palco do desembarque de 700 soldados de Lisboa que se apoderaram da Rádio Marconi, construída em 1926 no sítio da Alagoa, e que se encontrava na posse dos revoltosos.
Em 1942 é instalada a Empresa Baleeira do Arquipélago da Madeira, no sítio da Cancela que teve relativa importância económica e social para as gentes do Caniçal.
Apesar destas melhorias, o Caniçal continuou a ser, até meados do séc. XX, uma pequena e pobre freguesia desligada no resto da Ilha.
A sua população aumentou muito lentamente. Em 1920 a população era de 657 pessoas e em 1940 de 996.
A abertura do aqueduto Machico – Caniçal com a extensão 16 km permitiu época imediata de modificações e prosperidade na terra e vida do Caniçal. Os terrenos adquiridos e arroteados pela Junta Geral transformaram uma zona de esterilidade permanente num oásis de culturas ricas e pobres, dando colorido á paisagem, vida á terra, trabalho e alegria á população.
A construção do Túnel, no início dos anos 60 contribuiu para abrir o Caniçal, por via terrestre, ao exterior, atenuando o seu isolamento secular que dotou a freguesia de características singulares no contexto madeirense:
A endogamia, a prática que privilegia a residência pós-matrimonial fora de casa, um enorme sentido de solidariedade e de entreajuda.
Com a conquista da Autonomia, novos horizontes se rasgaram. Novas entradas se abriram, novos equipamentos surgiram: a instalação da CTT, Museu da Baleia, a criação da Zona Franca Industrial, a construção do novo porto de pesca, o abastecimento regular de água potável, o crescimento do tecido urbano e da população (1991-3586 habitantes; 1995-mais de 5 mil habitantes) projectaram o Caniçal como uma das freguesias mais dinâmicas e progressivas da Região Autónoma da Madeira